Sobre as origens da Maçonaria têm-se gasto rios de tinta e escrito as
mais fantasiosas histórias:. Desde os mistérios de Elêusis ao rei
Salomão e à Ordem do Templo, tudo tem servido a maçons, desejosos de
exaltar a antiguidade da Ordem, e a profanos não menos desejosos de
denegrir essa mesma Ordem, para escreverem patranhas e balelas,
confrangedoras pela ingenuidade e ignorância que revelam:.
Ligação
directa com o passado, só a encontramos no que respeita ao
corporativismo obreiro:. Como diz o historiador da Maçonaria Paul
Naudon, numa frase concisa e perfeita, "a franco-maçonaria apresenta-se
como a continuação e a transformação da organização dos mesteres da
Idade Média e do Renascimento, na qual o elemento especulativo tomou o
lugar do elemento operativo":.
As corporações dos mesteres
conheciam, é claro, para além do seu carácter puramente profissional,
preocupações de outra natureza: religiosa, iniciática, caritativa,
cultural até:. Tinham seus patronos próprios, suas festas rituais -
muitas vezes remontando à Antiguidade, mas com "disfarce" cristão -,
seus mistérios, sua intensa solidariedade:. A corporação dos pedreiros,
ligados à nobre arte da arquitectura, incluía-se entre as mais
importantes, respeitadas e ricas em simbologia e em segredos:. Nela se
fundiam princípios, práticas e tradições de construção que remontavam
aos Egípcios, aos Hebreus, aos Caldeus, aos Fenícios, aos Gregos, aos
Romanos e aos Bizantinos, em suma, a todo o corpus da civilização
europeia:. Neste medida, e só nela, se pode ligar a Maçonaria a uma
remota Antiguidade:.
É certo que não deixa de impressionar, na
cristalização maçónica de hoje, a existência de todo um conjunto de
elementos que lembram a organização das ordens da cavalaria e,
sobretudo, o ideário dos Templários:. Grande parte do vocabulário
maçónico está ligado, por sua vez, ao judaísmo bíblico:. Parece,
todavia, que esta associação se deve mais à influência que os Templários
exerceram na construção civil e religiosa e nas próprias corporações
dos pedreiros do que a uma ligação directa entre Ordem do Templo e Ordem
Maçónica:. Não convém esquecer que boa parte dos rituais, ditos escocês
e francês, com sua complexa emblemática, foi "inventada" no século
XVIII nas cortes e salões aristocráticos da Alemanha, França e
Inglaterra:.
As corporações dos pedreiros, como muitas outras,
podiam aceitar no seu seio determinadas pessoas que, em rigor, lhes
estariam à margem:. Era o caso de estrangeiros, de clérigos, de
agregados à profissão, de personalidades desejosas de se integrarem ou
de utilidade à corporação:.Já desde o século XV, por exemplo, que as
corporações maçónicas escocesas tinham impetrado do rei o privilégio de
terem à sua frente, como "grande mestre", um nobre de boa linhagem,
hereditário:. No século XVII, muitas lojas de pedreiros britânicas foram
reorganizadas segundo o modelo das academias italianas:. Estes maçons
aceites tornaram-se, com o andar dos tempos, tão numerosos que
imprimiram à corporação de que faziam parte um facies completamente
diverso do anterior:. Nas corporações onde tal começou a acontecer, o
elemento operativo foi cedendo o lugar ao elemento especulativo:.
Uma
transformação deste tipo levou centenas de anos a completar-se:.E só na
Grã-Bretanha, onde a tradição corporativa - como tantas outras
tradições - se manteve sem desfalecimento até ao século XVIII, foi
possível às antigas lojas de pedreiros operativos converterem-se, por
completo, em lojas de pedreiros especulativos, mantendo, não obstante, o
prestígio e o relevo social do passado:. Só na Grã-Bretanha também, se
conservaram o simbolismo e o ritual de tempos remotos, enriquecidos - e,
não poucas vezes, deturpados - pela continuidade secular da sua
prática:.
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