quarta-feira, 25 de abril de 2012

E se... a Bíblia não tivesse sido escrita?


A Bíblia está na base da cultura ocidental. É tão importante que, no século 15, foi escolhida para estrear a prensa de tipos móveis, desenvolvida por Gutenberg, e se tornou o primeiro livro impresso na história. E esse é só um detalhe de sua influência no mundo.
Sem a Bíblia, as três principais religiões monoteístas de hoje – cristianismo, judaísmo e islamismo – não existiriam. O culto a um deus único se espalhou com a confecção dos livros que deram origem à Torá e ao Antigo Testamento, ainda no século 7 a.C. No entanto, foi com o Novo Testamento que essa idéia triunfou. "O cristianismo minou completamente a crença em diversos deuses", diz o historiador André Chevitarese, da UFRJ. "Sem ele, o mundo continuaria a dar grande importância à religião, mas seria politeísta."
Chevitarese acredita que, sem o cristianismo, as tradições das colônias americanas também estariam melhor preservadas. "No politeísmo, há mais tolerância entre diferenças religiosas", afirma. Para ele, os europeus teriam explorado o continente economicamente, mas respeitando a cultura e a religião indígenas, da mesma maneira que, no século 2 a.C, o império romano assimilou os deuses gregos (Zeus virou Júpiter, por exemplo).
Outra possível diferença seria o avanço do conhecimento científico. "O cristianismo passou a ver as descobertas da ciência como um desafio a Deus e inibiu muitas delas", diz Chevitarese. O astrônomo Galileu Galilei, por exemplo, foi obrigado a se retratar perante a Igreja Católica, no século 17, por ter dito que a Terra girava em torno do Sol. "Teríamos uma astronomia muito mais avançada hoje, se a Igreja não tivesse condenado os estudos do universo desde o século 4", diz o historiador. Sem esse empecilho, é possível que os planos dos cientistas de hoje para colonizar a Lua já tivessem sido implementados e que celebrações no solo do satélite fossem comuns.

Orientalismo
A divisão entre Ocidente e Oriente, criada pela visão européia e cristã do "nós" versus "eles", não existiria. Com isso, é possível que valores e práticas da medicina oriental estivessem mais presentes na nossa vida

Deuses Diversos
Num mundo politeísta, as práticas religiosas seriam bem diversificadas. E todas seriam respeitadas. Uma divindade como a Lua, por exemplo, poderia ser adorada por diferentes pessoas, de várias maneiras. E, nas Américas, as imagens não seriam, como são hoje, inspiradas na estética greco-romana. Teríamos uma grande influência da cultura indígena pré-colonização

Feliz Natal
A data tida como a do nascimento de Jesus foi uma apropriação que o cristianismo fez de uma festa antiga, dedicada ao deus Mitra, popular na Pérsia e na Roma antiga. Ou seja, mesmo sem a Bíblia faríamos grandes celebrações no dia 25 de dezembro, que não seriam mais importantes que as festas de outros deuses

Elite e servos
A Bíblia pregou a noção de que o trabalho engrandece o homem diante de Deus. Sem ela, a relação com o trabalho continuaria como na Antiguidade: à elite, caberia o trabalho intelectual. Ao resto, o trabalho manual

Os clones
A idéia cristã de que o ser humano é resultado da ação divina – e, portanto, a visão de que mexer com a vida é colocar-se contra Deus – impediram diversos avanços da ciência. Sem a Bíblia, é possível que não houvesse sequer oposição a pesquisas com células-tronco, aborto e clonagem

Coisa de macho
É possível que sexo entre homens fosse bem aceito entre as elites, como acontecia na Grécia antiga. No entanto, como os cultos politeístas antigos preteriam mulheres, casais femininos seriam censurados.

Bíblia passada a limpo

Descobertas recentes da arqueologia indicam que a maior parte das escrituras sagradas não passa de lenda



A disputa entre ciência e religião pela posse da verdade é antiga. No Ocidente, começou no século XVI, quando Galileu defendeu a tese de que a Terra não era o centro do Universo. Essa primeira batalha foi vencida pela Igreja, que obrigou Galileu a negar suas idéias para não ser queimado vivo. Mas o futuro dessa disputa seria diferente: pouco a pouco, a religião perdeu a autoridade para explicar o mundo. Quando, no século XIX, Darwin lançou sua teoria sobre a evolução das espécies, contra a idéia da criação divina, o fosso entre ciência e religião já era intransponível. Nas últimas décadas, a Bíblia passou a ser alvo de ciências como a filologia (o estudo da língua e dos documentos escritos), a arqueologia e a história. E o que os cientistas estão provando é que o livro mais importante da história é, em sua maior parte, uma coleção de mitos, lendas e propaganda religiosa.
Primeiro livro impresso por Guttemberg, no século XV, e o mais vendido da história, a Bíblia reúne escritos fundamentais para as três grandes religiões monoteístas – Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Na verdade, a Bíblia é uma biblioteca de 73 livros escritos em momentos históricos diferentes. O Velho Testamento, aceito como sagrado por judeus, cristãos e muçulmanos, é composto de 46 livros que pretendem resumir a história do povo hebreu desde o suposto chamamento de Abraão por Deus, que teria ocorrido por volta de 1850 a.C., até a conquista da Palestina pelos exércitos de Alexandre Magno e as revoltas do povo judeu contra o domínio grego, por volta de 300 a.C. Os 27 livros do Novo Testamento abarcam um período bem menor: cerca de 70 anos que vão do nascimento de Jesus à destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C.
O coração do Velho Testamento são os primeiros cinco livros, que compõem a Torá do Judaísmo (a palavra significa "lei", em hebraico). Em grego, o conjunto desses livros recebeu o nome de Pentateuco ("cinco livros"). São considerados os textos "históricos" da Bíblia, porque pretendem contar o que ocorreu desde o início dos tempos, inclusive a criação do homem – que, segundo alguns teólogos, teria ocorrido em 5000 a.C. O Pentateuco inclui o Gênesis (o "livro das origens", que narra a criação do mundo e do homem até o dilúvio universal), o Êxodo (que narra a saída dos judeus do Egito sob a liderança de Moisés) e os Números (que contam a longa travessia dos judeus pelo deserto até a chegada a Canaã, a terra prometida).
Das três ciências que estudam a Bíblia, a arqueologia tem se mostrado a mais promissora. "Ela é a única que fornece dados novos", diz o arqueólogo israelense Israel Finkelstein, diretor do Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv e autor do livro The Bible Unearthed (A Bíblia desenterrada, inédito no Brasil), publicado no ano passado. A obra causou um choque em estudiosos de arqueologia bíblica, porque reduz os relatos do Antigo Testamento a uma coleção de lendas inventadas a partir do século VII a.C.
O Gênesis, por exemplo, é visto como uma epopéia literária. O mesmo vale para as conquistas de David e as descrições do império de Salomão.
A ciência também analisa os textos do Novo Testamento, embora o campo de batalha aqui esteja muito mais na filologia. A arqueologia, nesse caso, serve mais para compor um cenário para os fatos do que para resolver contendas entre as várias teorias. O núcleo central do Novo Testamento são os quatro evangelhos. A palavra evangelho significa "boa nova" e a intenção desses textos é clara: propagandear o Cristianismo. Três deles (Mateus, Marcos e Lucas) são chamados sinóticos, o que pode ser traduzido como "com o mesmo ponto de vista". Eles contam a mesma história, o que seria uma prova de que os fatos realmente aconteceram. Não é tão simples. O problema central do Novo Testamento é que seus textos não foram escritos pelos evangelistas em pessoa, como muita gente supõe, mas por seus seguidores, entre os anos 60 e 70, décadas depois da morte de Jesus, quando as versões estavam contaminadas pela fé e por disputas religiosas.
Nessa época, os cristãos estavam sendo perseguidos e mortos pelos romanos, e alguns dos primeiros apóstolos, depois de se separarem para levar a "boa nova" ao resto do mundo, estavam velhos e doentes. Havia, portanto, o perigo de que a mensagem cristã caísse no esquecimento se não fosse colocada no papel. Marcos foi o primeiro a fazer isso, e seus textos serviram de base para os relatos de Mateus e Lucas, que aproveitaram para tirar do texto anterior algumas situações que lhes pareceram heresias. "Em Marcos, Jesus é uma figura estranha que precisa fazer rituais de magia para conseguir um milagre", afirma o historiador e arqueólogo André Chevitarese.
Para tentar enxergar o personagem histórico de Jesus através das camadas de traduções e das inúmeras deturpações aplicadas ao Novo Testamento, os pesquisadores voltaram-se para os textos que a Igreja repudiou nos primeiros séculos do Cristianismo. Ignorados, alguns desapareceram. Mas os fragmentos que nos chegaram tiveram menos intervenções da Igreja ao longo desses 2 000 anos. Parte desses evangelhos, chamados "apócrifos" (não se sabe ao certo quem os escreveu), fazem parte de uma biblioteca cristã do século IV descoberta em 1945 em cavernas do Egito. Os evangelhos estavam escritos em língua copta (povo do Egito).
O fato de esses textos terem sido comprovadamente escritos nos primeiros séculos da era cristã não quer dizer que eles sejam mais autênticos ou contenham mais verdades que os relatos que chegaram até nós como oficiais. Pelo contrário, até. Os coptas, que fundariam a Igreja cristã etíope, foram considerados hereges, porque não aceitavam a dupla natureza de Jesus (humana e divina). Para eles, Jesus era apenas divino e os textos apócrifos coptas defendem essa versão. Mesmo assim, eles trazem pistas para elucidar os fatos históricos.
A tentativa de entender o Jesus histórico buscando relacioná-lo a uma ou outra corrente religiosa judaica também foi infrutífera, como ficou demonstrado no final da tradução dos pergaminhos do Mar Morto, anunciada recentemente. Esses papéis, achados por acaso em cavernas próximas do Mar Morto, em 1947, criaram a expectativa de que pudesse haver uma ligação entre Jesus e os essênios, uma corrente religiosa asceta, cujos adeptos viviam isolados em comunidades purificando-se à espera do messias. O fim das traduções indica que não há qualquer ligação direta entre Jesus e os essênios, a não ser a revolta comum contra a dominação romana.
O resultado é que, depois de dois milênios, parece impossível separar o verdadeiro do falso no Novo Testamento. O pesquisador Paul Johnson, autor de A História do Cristianismo, afirma que, se extrairmos, de tudo o que já se escreveu sobre Jesus, só o que tem coerência histórica e é consenso, restará um acontecimento quase desprovido de significado. "Esse ‘Jesus residual’ contava histórias, emitiu uma série de ditos sábios, foi executado em circunstâncias pouco claras e passou a ser, depois, celebrado em cerimônia por seus seguidores."
O que sabemos com certeza é que Jesus foi um judeu sectário, um agitador político que ameaçava levantar os dois milhões de judeus da Palestina contra o exército de ocupação romano. Tudo o mais que se diz dele precisa da fé para ser tomado como verdade. Assim como aconteceu com Moisés, David e Salomão do Velho Testamento, a figura de Jesus sumiu na névoa religiosa.

O Dilúvio
No Gênesis, a história do dilúvio é uma das poucas que ainda alimenta o interesse dos cientistas, depois que os físicos substituíram a criação do mundo pelo Big Bang e Darwin substituiu Adão pelos macacos. O que intrigou os pesquisadores foi o fato de uma história parecida existir no texto épico babilônico de Gilgamesh – o que sugere que uma enchente de enormes proporções poderia ter acontecido no Oriente Médio e na Ásia Menor. Parte do mistério foi solucionado quando os filólogos conseguiram demonstrar que a narrativa do Gênesis é uma apropriação do mito mesopotâmico. "Não há dúvida de que os hebreus se inspiraram no mito de Gilgamesh para contar a história do dilúvio", afirma Rafael Rodrigues da Silva, professor do Departamento de Teologia da PUC de São Paulo, especialista na exegese do Antigo Testamento.
O povo hebreu entrou em contato com o mito de Gilgamesh no século VI a.C. Em 598 a.C., o rei babilônico Nabucodonosor, depois de conquistar a Assíria, invadiu e destruiu Jerusalém e seu templo sagrado. No ano seguinte, os judeus foram deportados para a Babilônia como escravos. O chamado exílio babilônico durou 40 anos. Em 538 a.C., Ciro, o fundador do Império Persa, depois de submeter a Babilônia permitiu o retorno dos judeus à Palestina. Os rabinos ou "escribas" começaram a reconstruir o Templo e a reescrever o Gênesis para, de alguma forma, dar um sentido teológico à terrível experiência do exílio. Assim, a ameaça do dilúvio seria uma referência à planície inundável entre os rios Tigre e Eufrates, região natal de Nabucodonosor; os 40 dias de chuva seriam os 40 anos do exílio; e a aliança final de Deus com Noé, marcada pelo arco-íris, uma promessa divina de que os judeus jamais seriam exilados.
Solucionado o mistério do dilúvio na Bíblia, continua o da sua origem no texto de Gilgamesh. No final da década de 90, dois geólogos americanos da Universidade Columbia, Walter Pittman e Willian Ryan, criaram uma hipótese: por volta do ano 5600 a.C., ao final da última era glacial, o Mar Mediterrâneo havia atingido seu nível mais alto e ameaçava invadir o interior da Ásia na região hoje ocupada pela Turquia, mais precisamente a Anatólia. Num evento catastrófico, o Mediterrâneo irrompeu através do Estreito de Bósforo (ver infográfico na página 44), dando origem ao Mar Negro como o conhecemos hoje. Um imenso vale de terras férteis e ocupado por um lago foi inundado em dois ou três dias.
Os povos que ocupavam os vales inundados tiveram que fugir às pressas e o mais provável é que a maioria tenha morrido. Os sobreviventes, porém, tinham uma história inesquecível, que ecoaria por milênios. Alguns deles, chamados ubaids, atravessaram as montanhas da Turquia e chegaram à Mesopotâmia, tornando-se os mais antigos ancestrais de sumérios, assírios e babilônios. Estaria aí a origem da narrativa de Gilgamesh. Essa teoria foi recebida por arqueólogos e antropólogos como fantástica demais para ser verdadeira.
No entanto, no verão de 2000, o caçador de tesouros submersos Robert Ballard, o mesmo que encontrou os restos do Titanic, levou suas poderosas sondas para analisar o fundo do Mar Negro nas proximidades do que deveriam ser vales de rios antes do cataclisma aquático. Ballard encontrou restos de construções primitivas e a análise da lama colhida em camadas profundas do oceano provaram que, há 7 600 anos, ali existia um lago de água doce. A hipótese do grande dilúvio do Mar Negro estava provada.

O Êxodo
Não há registro arqueológico ou histórico da existência de Moisés ou dos fatos descritos no Êxodo. A libertação dos hebreus, escravizados por um faraó egípcio, foi incluída na Torá provavelmente no século VII a.C., por obra dos escribas do Templo de Jerusalém, em uma reforma social e religiosa. Para combater o politeísmo e o culto de imagens, que cresciam entre os judeus, os rabinos inventaram um novo código de leis e histórias de patriarcas heróicos que recebiam ensinamentos diretamente de Jeová. Tais intenções acabaram batizadas de "ideologia deuteronômica", porque estão mais evidentes no livro Deuteronômio. A prova de que esses textos são lendas estaria nas inúmeras incongruências culturais e geográficas entre o texto e a realidade. Muitos reinos e locais citados na jornada de Moisés pelo deserto não existiam no século XIII a.C., quando o Êxodo teria ocorrido. Esses locais só viriam a existir 500 anos depois, justamente no período dos escribas deuteronômicos.
Também não havia um local chamado Monte Sinai, onde Moisés teria recebido os Dez Mandamentos. Sua localização atual, no Egito, foi escolhida entre os séculos IV e VI d.C., por monges cristãos bizantinos, porque ele oferecia uma bela vista. Já as Dez Pragas seriam o eco de um desastre ecológico ocorrido no Vale do Nilo quando tribos nômades de semitas estiveram por lá (veja infográfico na página 45).
Vejamos agora o caso de Abraão, o patriarca dos judeus. Segundo a Bíblia, ele era um comerciante nômade que, por volta de 1850 a.C., emigrou de Ur, na Mesopotâmia, para Canaã (na Palestina). Na viagem, ele e seus filhos comerciavam em caravanas de camelos. Mas não há registros de migrações de Ur em direção a Canaã que justifiquem o relato bíblico e, naquela época, os camelos ainda não haviam sido domesticados. Aqui também há erros geográficos: lugares citados na viagem de Abraão, como Hebron e Bersheba, nem existiam então. Hoje, a análise filológica dos textos indica que Abraão foi introduzido na Torá entre os séculos VIII e VII a.C. (mais de 1 000 anos após a suposta viagem).
Então, como surgiu o povo hebreu? Na verdade, hebreus e canaanitas são o mesmo povo. Por volta de 2000 a.C., os canaanitas viviam em povoados nas terras férteis dos vales, enquanto os hebreus eram nômades das montanhas. Foi o declínio das cidades canaanitas, acossadas por invasores no final da Idade do Bronze (300 a.C. a 1000 a.C.), que permitiu aos hebreus ocupar os vales. Segundo a Bíblia, os hebreus conquistaram Canaã com a ajuda dos céus: na entrada de Jericó, o exército hebreu toca suas trombetas e as muralhas da cidade desabam, por milagre. Mas a ciência diz que Jericó nem tinha muralhas nessa época. A chegada dos hebreus teria sido um longo e pacífico processo de infiltração.

David e Salomão
Há pouca dúvida de que David e Salomão existiram. Mas há muita controvérsia sobre seu verdadeiro papel na história do povo hebreu. A Bíblia diz que a primeira unificação das tribos hebraicas aconteceu no reinado de Saul. Seu sucessor, David, organizou o Estado hebraico, eliminando adversários e preparando o terreno para que seu filho, Salomão, pudesse reinar sobre um vasto império. O período salomônico (970 a.C. a 930 a.C.) teria sido marcado pela construção do Templo de Jerusalém e a entronização da Arca da Aliança em seu altar.
Não há registros históricos ou arqueológicos da existência de Saul, mas a arqueologia mostra que boa parte dos hebreus ainda vivia em aldeias nas montanhas no período em que ele teria vivido (por volta de 1000 a.C.) – assim, Saul seria apenas um entre os muitos líderes tribais hebreus. Quanto a David, há pelos menos um achado arqueológico importante: em 1993 foi encontrada uma pedra de basalto datada do século IX a.C. com escritos que mencionam um rei David.
Por outro lado, não há qualquer evidência das conquistas de David narradas na Bíblia, como sua vitória sobre o gigante Golias. Ao contrário, as cidades canaanitas mencionadas como destruídas por seus exércitos teriam continuado sua vida normalmente. Na verdade, David não teria sido o grande líder que a Bíblia afirma. Seu papel teria sido muito menor. Ele pode ter sido o líder de um grupo de rebeldes que vivia nas montanhas, chamados apiru (palavra de onde deriva a palavra hebreu) – uma espécie de guerrilheiro que ameaçava as cidades do sul da Palestina. Quanto ao império salomônico cantado em verso e prosa na Torá hebraica, a verdade é que não foram achadas ruínas de arquitetura monumental em Jerusalém ou qualquer das outras cidades citadas na Bíblia.
O principal indício de que as conquistas de David e o império de Salomão são, em sua maior parte, invenções é que, no período em que teriam vivido, a arqueologia prova que a cultura canaanita (que, segundo a Bíblia, teria sido destruída) continuava viva. A conclusão é que David e Salomão teriam sido apenas pequenos líderes tribais de Judá, um Estado pobre e politicamente inexpressivo localizado no sul da Palestina.
Na verdade, o grande momento da história hebraica teria acontecido não no período salomônico, mas cerca de um século mais tarde. Entre 884 e 873 a.C., foi fundada Samária, a capital do reino de Israel, no norte da Palestina, sob a liderança do rei israelita Omri. Enquanto Judá permanecia pobre e esquecida no sul, os israelitas do norte faziam alianças com os assírios e viviam um período de grande desenvolvimento econômico. A arqueologia demonstrou que os monumentos normalmente atribuídos a Salomão foram, na verdade, erguidos pelos omridas. Ou seja: o primeiro grande Estado judaico não teve a liderança de Salomão, e sim dos reis da dinastia omrida.
Enriquecido pelos acordos comerciais com Assíria e Egito, o rei Ahab, filho de Omri, ordena a construção dos palácios de Megiddo e as muralhas de Hazor, entre outras obras. Hoje, os restos arqueológicos desses palácios e muralhas são o principal ponto de discórdia entre os arqueólogos que estudam a Torá. Muitos ainda os atribuem a Salomão, numa atitude muito mais de fé do que de rigor científico, já que as datações mais recentes indicam que Salomão nunca ergueu palácios.

Judá
Entender a história de Judá é fundamental para entender todo o Velho Testamento. Até o século VIII a.C., Judá era apenas uma reunião de tribos vivendo numa região desértica do sul da Palestina. Em 722 a.C., porém, os assírios resolvem conquistar as ricas planícies e cidades de Israel – o reino do norte, mais desenvolvido economicamente e mais culto. Judá, no sul, que não pareceu interessar aos assírios, pôde continuar independente, desde que pagasse tributos ao império assírio.
Assim, enquanto no norte acontece uma desintegração dos hebreus, levados para a Assíria como escravos, no sul eles continuam unidos em torno do Templo de Jerusalém. Judá beneficiou-se enormemente da destruição do reino do norte. Jerusalém cresceu rapidamente e cidades como Lachish, que servia de passagem antes de chegar a Jerusalém, foram fortificadas. Era o momento de Judá tomar a frente dos hebreus. Para isso, precisaria de duas coisas: um rei forte e um arsenal ideológico capaz de convencer as tribos do norte de que Judá fora escolhida por Deus para unir os hebreus. Além disso, era preciso combater o politeísmo que voltava a crescer no norte.
Josias foi o candidato a assumir a posição de rei unificador. Durante uma reforma no Templo de Jerusalém, em seu governo, foi "encontrado" (na verdade, não há dúvidas de que o livro foi colocado ali de propósito) o livro Deuteronômio, com todos os ingredientes para um ampla reforma social e religiosa. O livro possui até profecias que afirmam, por exemplo, que um rei chamado Josias, da casa de David, seria escolhido por Deus para salvar os hebreus. Ungido pelo relato do livro, o ardiloso Josias consegue seu objetivo de centralizar o poder, mas acaba morto em batalha. Judá revolta-se contra os assírios e o rei da Assíria, Senaqueribe, invade a região, destruindo Lachish e submetendo Jerusalém. A destruição de Lachish, narrada com riqueza de detalhes na Bíblia, também aparece num relevo encontrado em Nínive, a antiga capital assíria. E as escavações comprovaram que a Bíblia e o relevo são fiéis ao acontecido. Ou seja: nesse caso, a arqueologia provou que a Torá foi fiel aos fatos.

Jesus
Segundo o Novo Testamento, Jesus nasceu em Belém, uma cidadezinha localizada oito quilômetros ao sul de Jerusalém, filho do carpinteiro José e de uma jovem chamada Maria, que o concebeu sem macular sua virgindade. Os evangelhos de Lucas e Mateus afirmam que Jesus nasceu "perto do fim do reino de Herodes". O texto de Lucas afirma que a anunciação aconteceu em Nazaré, onde José e Maria viviam, mas eles foram obrigados a viajar até Belém pelo censo "ordenado quando Quirino era governador da Síria".
Hoje, o que se sabe de concreto sobre Jesus é que ele nasceu na Palestina, provavelmente no ano 6 a.C., ao final do reinado de Herodes Antibas (que acabou em 4 a.C.). A diferença entre o nascimento real de Jesus e o ano zero do calendário cristão se deve a um erro de cálculo. No século VI, quando a Igreja resolveu reformular o calendário, o monge incumbido de fazer os cálculos cometeu um erro. Além disso, é praticamente certo que Jesus nasceu em Nazaré e não em Belém. A explicação que o texto de Lucas dá para a viagem de Jesus até Belém seria falsa. Os registros romanos mostram que Quirino (aquele que teria feito o censo que obrigou a viagem a Belém) só assumiu no ano 6 d.C. – 12 anos depois do ano de nascimento de Jesus. A história da viagem a Belém foi criada porque a tradição judaica considerava essa cidade o berço do rei David – e o messias deveria ser da linhagem do primeiro rei dos judeus.
A concepção imaculada de Maria é um dos dogmas mais rígidos da Igreja, mas nem sempre foi um consenso entre os cristãos. Alguns textos apócrifos dos séculos II e III sugerem que Jesus é fruto de uma relação de Maria com um soldado romano. A menina Maria teria 12 anos quando concebeu Jesus. Na rígida tradição judaica, uma mulher que engravidasse assim poderia ser condenada à morte por apedrejamento. O velho carpinteiro José, provavelmente querendo poupar a menina, casou-se com ela e escondeu sua gravidez até o nascimento do bebê. A data de 25 de dezembro não está na Bíblia. É uma criação também do século VI, quando o calendário foi alterado.
A Bíblia afirma que Jesus teve duas irmãs e quatro irmãos: Tiago, Judas, José e Simão. Mas não se sabe se esses eram filhos de Maria ou de um primeiro casamento de José. Muitos teólogos afirmam que eles eram, na verdade, primos de Jesus – em aramaico, irmão e primo são a mesma palavra. A Bíblia não fala quase nada sobre a infância e a adolescência de Jesus, com exceção de uma passagem em que, aos 12 anos, numa visita ao Templo de Jerusalém durante a Páscoa, seus pais o encontram discutindo teologia com os sábios nas escadarias do templo do monte. É quase certo, porém, que ele cresceu em Nazaré.
Jesus falava certamente o aramaico, a língua corrente da Palestina e, provavelmente, entendia o hebreu por ter tomado lições na sinagoga e por ler a Torá. Os evangelhos apócrifos o pintam como um menino Jesus travesso, capaz de dar vida a figuras de barro para impressionar os colegas e até mesmo a fulminar um menino que esbarrou em seu ombro, para ressuscitá-lo logo em seguida, depois de tomar uma bronca do pai.
Certamente José procurou iniciá-lo na arte da carpintaria e é provável que Jesus tenha trabalhado como carpinteiro durante um bom tempo. Oportunidade não lhe faltou. Escavações recentes revelaram que ao mesmo tempo em que Jesus crescia em Nazaré, bem próximo era construída a monumental cidade de Séfores, idealizada por Herodes Antibas para ser a capital da Galiléia. Séfores estava a uma hora a pé de Nazaré e é muito provável que José e Jesus tenham trabalhado ali. Em Séfores Jesus teria visto a passagem da família real de Herodes Antibas e a opulência das famílias de sacerdotes do Templo de Jerusalém. O fato de Jesus ter passado boa parte da sua vida ao lado de Séfores indicaria que ele não era um camponês rústico como já se pensou, mas tinha contato com a cultura do mundo helênico.
Aos 30 anos, Jesus se fez batizar por João Batista nas margens do rio Jordão. Segundo a Bíblia, durante o batismo João reconhece Jesus como o messias. Há registros históricos da existência de João Batista e, recentemente, arqueólogos encontraram entre o monte Nebo e Jericó, nas margens do rio Jordão, ruínas de um antigo local de peregrinação por volta do século III d.C.
Decidido a cumprir sua missão na terra, Jesus dirigiu-se então para a Galiléia, onde recrutou seus primeiros discípulos entre os pescadores do lago Tiberíades. Passou a viver com seus primeiros seguidores em Cafarnaum, cidade de pescadores próxima do lago de Tiberíades. Por dois anos Jesus pregou pela Galiléia, Judéia e em Jerusalém, proferindo sermões e contando parábolas. Segundo a Bíblia, realizou 31 milagres, incluindo 17 curas e seis exorcismos. Alguns dos mais famosos são a ressurreição de Lázaro, a transformação de água em vinho e a multiplicação dos peixes.
Cafarnaum, onde Jesus teria vivido com seus discípulos, era um povoado de cerca de 1 500 moradores naquela época. Escavações encontraram os restos da casa de um dos discípulos, provavelmente de Simão Pedro (hoje conhecido como São Pedro), além de um barco datado da mesma época da passagem de Cristo pelo lugar. Não há, porém, certeza quanto ao número de discípulos que viviam próximos de Jesus. Nos evangelhos, apenas os oito primeiros conferem – os quatro últimos têm muitas variações. A hipótese mais provável é que o número "redondo" de 12 discípulos foi uma invenção posterior para espelhar, no Novo Testamento, as 12 tribos dos hebreus descritas no Velho Testamento.
Depois de viajar por quase toda a Palestina, Jesus parte para cumprir seu destino – ou, segundo alguns especialistas, seu plano. Durante a semana da Páscoa, o principal evento religioso do calendário judeu, Jesus entra em Jerusalém montado num burro e atravessando a Porta Maravilhosa. Esse foi, certamente, um ato deliberado de provocação aos sacerdotes do Templo e à elite judaica. Jesus faz exatamente o que o profeta Zacarias afirmava na Torá que o messias faria ao chegar. Jesus estava mandando uma mensagem de provocação aos sacerdotes do Templo. No segundo dia da Páscoa, Jesus vai ao Templo e ataca os mercadores e cambistas raivosamente.
Na quinta-feira, percebendo que o cerco apertava, os apóstolos celebram com Jesus a última ceia. A imagem que ficou dessa cena, gravada por Da Vinci e outros pintores, nada tem de verdadeiro. Os judeus comiam deitados de flanco, como os romanos, e as mesas eram ordenadas em formato de U e não dispostas numa linha reta. Durante a ceia, Judas levanta-se para trair seu mestre – ou, como alguns sugerem, para cumprir uma ordem dada pelo próprio Jesus. A captura acontece no Jardim do Getsêmani, onde Jesus e seus discípulos descansavam no caminho para Betânia, onde ficariam hospedados.
Levado para o Sinédrio, o Conselho dos Sacerdotes do Templo, Jesus reafirma sua missão divina e é condenado. Existem provas da denúncia de Caifás a Pilatos. Estudiosos judeus afirmam, porém, que o julgamento perante o Sinédrio jamais ocorreu porque o Sinédrio não se reunia durante a Páscoa. Essa versão teria sido incluída tardiamente na Bíblia após a ruptura definitiva entre cristãos e judeus. Jesus foi morto pelos romanos porque era considerado um agitador político.
Na manhã de sexta-feira, na residência do prefeito Pôncio Pilatos, Jesus é condenado à morte. Ele atravessa as ruas de Jerusalém carregando sua própria cruz e é crucificado entre dois ladrões. O caminho que Jesus percorreu nada tem a ver com a Via Crúcis visitada pelos turistas hoje. Ela é uma criação do século XIV, quando a cidade esteve nas mãos dos cavaleiros cruzados. A maioria dos historiadores e arqueólogos concorda, porém, que o morro do Calvário (Gólgota), localizado ao lado de uma pedreira, foi realmente o lugar da crucificação. Concordam também que seu corpo tenha sido colocado numa das grutas próximas. O que aconteceu então depende da fé de cada um. Há varias versões: que Jesus teria sobrevivido ao martírio, que outra pessoa teria morrido em seu lugar, que seu corpo teria sido roubado ou, claro, que ele teria ressuscitado.

Jerusalém
Quando Jesus atravessou a Porta Maravilhosa em seu burrico, Jerusalém era a maior cidade do Império Romano entre Damasco (atual capital da Síria) e Alexandria (no Egito), com uma população estimada em torno de 80 000 moradores. Durante a semana da Páscoa, porém, o número de peregrinos na cidade ultrapassava 100 000, o que dá uma idéia do clima de agitação vivido na cidade: carros de boi dividiam as ruas estreitas com os pedestres e havia um grande vaivém de animais sendo trazidos para o sacrifício durante as festividades.
Conquistada pelos romanos em 63 a.C., Jerusalém estava no auge do seu esplendor arquitetônico. Onde quer que chegasse seu império, os romanos faziam questão de introduzir seu estilo arquitetônico em obras como estradas, palácios, anfiteatros e hipódromos. Em 31 a.C., os romanos haviam colocado o judeu Herodes Antibas como governador da Palestina. Sua principal obra foi a construção do Templo de Jerusalém, cujo tamanho e riqueza foram pensados para rivalizar com o templo salomônico descrito na Torá. As obras haviam terminado no ano 10 a.C. – quatro anos antes do nascimento de Jesus.
A cidade era dividida entre as partes alta e baixa. Na alta, escavações recentes mostraram que a elite da cidade tinha uma vida requintada. As casas tinham normalmente dois andares, e eram construídas ao redor de um pátio pavimentado de pedra. Havia piscinas privadas para os rituais de purificação. Os pisos eram cobertos por mosaicos e as paredes, por afrescos com cenas campestres. Também foram encontrados copos de vidro finamente trabalhados e frascos de perfume.
A riqueza da elite judaica era alimentada pela cobrança de taxas dos peregrinos. Para as convicções rígidas de Jesus sobre riqueza e ostentação, era inadmissível o estilo de vida dos sacerdotes e do rei judeu Herodes, que aceitavam e se beneficiavam com a dominação dos pagãos romanos. Não é possível afirmar que Jesus estava decidido a morrer crucificado naquela semana de Páscoa, mas há elementos para admitir que ele havia decidido ir até as últimas conseqüências para denunciar a situação. O resultado todos nós sabemos.

Paulo
No ano 36 d.C., vivia na Antióquia (Turquia) um judeu helenizado chamado Paulo de Tarso. Além de cidadão romano, era também um soldado do imperador, cuja função era perseguir cristãos. Mas, em 36 d.C., Paulo converteu-se à fé cristã, segundo ele depois que Jesus lhe apareceu milagrosamente. A partir de então, Paulo se transformaria no mais decidido e incansável apóstolo do Cristianismo.
A principal preocupação de Paulo era converter os gentios (os não-judeus) espalhados pelo império. Em 16 anos, fez quatro grandes viagens por Grécia, Ásia, Síria e Roma. Foi o primeiro a escrever sobre o Cristianismo nas 14 cartas que enviou às comunidades cristãs que havia fundado. Paulo achava que a mensagem de Cristo não podia ficar confinada na Palestina.
Em Jerusalém, porém, os judeus cristãos, liderados pelo irmão de Jesus, Tiago, estavam voltando às origens judaicas. Se não fosse por Paulo, é bem provável que o Cristianismo acabasse por ser reassimilado pelo Judaísmo, extinguindo-se. Para resolver suas divergências, provavelmente em 49 d.C., houve o primeiro concílio da igreja cristã em Jerusalém. Pela primeira vez enfrentaram-se Paulo e os seguidores sobreviventes de Jesus.
Ali começou a ser edificado o Cristianismo atual. Paulo lutou contra a circuncisão obrigatória para os convertidos – algo que certamente afastaria muitos homens gentios. E defendeu a revogação das leis e prescrições judaicas em favor dos preceitos simples de Cristo. Sua opinião prevaleceu principalmente porque o apóstolo Pedro convenceu-se de que ele estava certo.
Em 59 d.C., Paulo foi novamente convocado a se explicar e, no debate que se seguiu, obrigado, pela ala judaica, a adorar o Templo de Jerusalém como demonstração de fé. Durante a visita, foi identificado e preso e, em 60 d.C., deportado para Roma – onde ficou em prisão domiciliar. Em 64 d.C., quando Nero mandou perseguir os cristãos, Pedro e Paulo acabaram presos e condenados à morte. Pedro foi crucificado e Paulo, por ser cidadão romano, teve o privilégio de ser decapitado.
Em 70 d.C., durante uma revolta dos judeus contra a dominação romana, Tito destruiu Jerusalém e seu templo, obrigando os judeus a fugir da Palestina. O desaparecimento dos que se opunham à visão universalizante que Paulo tinha do Cristianismo abriu caminho para sua visão da fé. O centro de gravidade do Cristianismo deslocou-se para Roma, que, em poucos séculos, passaria a ser o centro da cristandade.
Uma bela história. Seja a da versão bíblica oficial, a apócrifa ou a que a ciência hoje propõe como a que tem mais chances de ser verdadeira.
O que se sabe com certeza é que Jesus foi um judeu sectário e um agitador político que ameaçava levantar dois milhões de judeus da Palestina contra o exército de ocupação romano. Tudo o mais que se diz dele necessita da fé para ser considerado verdade

A libertação do Egito
O que diz a Bíblia - No Êxodo, Deus escolhe Moisés como libertador do povo hebreu, envia as Dez Pragas e divide as águas do Mar Vermelho. No Monte Sinai, já a caminho da Terra Prometida, Moisés recebe as tábuas dos Dez Mandamentos.
O que diz a Arqueologia - Não há qualquer registro da existência de Moisés ou dos fatos descritos no Êxodo. Aliás, boa parte dos reinos e locais citados na sua jornada também não existiam no século XIII a.C. e só surgiriam 500 anos depois. A escolha do lugar que passou a ser conhecido como Monte Sinai ocorreu entre os séculos IV e VI d.C. por monges bizantinos.

O Dilúvio universal
O que diz a Bíblia - Segundo o Gênesis, um grande dilúvio destruiu a Terra. Noé e sua família, avisados, construíram uma arca para salvar um casal de cada espécie animal.
O que diz a Arqueologia - Ruínas achadas no Mar Negro, próximo da Turquia, mostram que houve uma enchente catastrófica por volta de 5600 a.C. O nível do Mar Mediterrâneo subiu e irrompeu pelo Estreito de Bósforo, inundando a planície onde hoje está localizado o Mar Negro. Na época, a região era uma planície de terras férteis, com um lago. Sobreviventes dessa catástrofe migraram para a Mesopotâmia. Assim teria surgido a história do dilúvio no texto sumério de Gilgamesh. Os hebreus conheceram a história quando estiveram cativos na Babilônia.

A conquista de Canaã
O que diz a Bíblia - Depois da libertação do Egito, Moisés conduziu os hebreus até a entrada da Terra Prometida. Ali, os israelitas enfrentam os nativos canaanitas com uma ajuda divina: ao toque de suas trombetas, as muralhas de Jericó desabam miraculosamente.
O que diz a Arqueologia - Jericó nem tinha muralhas nesse período. Na verdade, a tomada de Canaã pelos hebreus acontece de forma gradual, quando as tribos hebraicas trocam o pastoreio pela agricultura dos vales férteis. A história da conquista foi escrita durante o século VII d.C., mais de 500 anos depois da chegada dos hebreus aos vales cananeus.

A saga do rei David
O que diz a Bíblia - Após derrotar Golias, David firma-se como rei dos hebreus, submetendo primeiro a tribo de Judá e, posteriormente, todas as 11 tribos israelitas.
O que diz a Arqueologia - Em 1993 foi encontrada uma pedra de basalto datada do século IX a.C. com escritos que mencionam a existência de um rei hebreu chamado David. Mas não há qualquer evidência das conquistas de David narradas na Bíblia. David pode ter sido o líder de um grupo de rebeldes vindos de camadas pobres dos cananeus que, nessa época, atacava as cidades do sul da Palestina.

A guerra assíria
O que diz a Bíblia - Por volta de 700 a.C., o rei Ezequias, de Judá, revolta-se contra os assírios. Judá é atacada e a cidade de Lachish é completamente destruída.
O que diz a Arqueologia - Os fatos são narrados com precisão histórica. Achados arqueológicos permitiram reconstruir o cenário da batalha descrita na Bíblia. Além disso, a destruição de Lachish pelos assírios foi expressa num relevo em Nínive, a capital assíria, e as imagens batem com a narrativa bíblica.

Império de Salomão
O que diz a Bíblia - Salomão sucedeu a seu pai, David, fez alianças com reinos vizinhos e construiu o Templo de Jerusalém. Em seu reinado, os israelitas alcançaram opulência e poder. Salomão construiu palácios e fortalezas em Jerusalém, Megiddo, Hazon e Gezer.
O que diz a Arqueologia - Não há sinal de arquitetura monumental em Jerusalém ou em qualquer das outras cidades citadas. Tudo leva a crer que Salomão, como David, eram apenas pequenos líderes tribais de Judá, um Estado pobre e politicamente inexpressivo.

As dez pragas que Deus teria enviado para salvar os judeus da escravidão no Egito podem ser um eco fantasiado de uma catástrofe ecológica que realmente aconteceu no Egito. Veja abaixo quais são as pestes e como a ciência explica cada uma delas.

1. As águas do Nilo se tingem de sangue
Uma mudança climática repentina esquenta a água do Nilo e provoca a reprodução descontrolada de Pfiesteria, uma alga que provoca hemorragias nos peixes, matando-os e intoxicando as águas com sangue.

2. Rãs cobrem a terra
A intoxicação das águas faz rãs e sapos fugirem, espalhando-se por toda a região.

3. Mosquitos atormentam homens e animais
A morte dos sapos produz uma superpopulação de insetos, inclusive do terrível maruim, um pequeno mosquito de picada dolorida.

4. Moscas escurecem o ar e atacam homens e animais
Outro tipo de inseto, a mosca dos estábulos, transforma-se em praga, atacando todo tipo de mamífero que encontra.

5. Uma peste atinge os animais
A peste eqüina africana e a peste da língua azul são doenças transmitidas pelo maruim e que atingem mamíferos.

6. Pústulas cobrem homens e animais
O mormo, uma doença eqüina que também ataca o homem, é transmitida pela mosca dos estábulos. Ela produz úlceras na pele.

7. Chuva de granizo destrói plantações
O granizo pode cair nas regiões desérticas do Mediterrâneo, embora seja um fenômeno relativamente raro.

8. Nuvem de gafanhotos ataca plantações
Os gafanhotos também são uma praga conhecida na região.

9. Escuridão encobre o Sol por três dias
Uma tempestade de areia pode durar dias e é capaz de encobrir completamente a luz do Sol.

10. Os primogênitos de homens e animais morrem
Cereais guardados em celeiros ainda úmidos podem desenvolver um bolor altamente tóxico. Como no Egito antigo os primogênitos (tanto humanos quanto dos animais) tinham a precedência na alimentação, em tempos de escassez eles foram os primeiros a ser fatalmente intoxicados pelo bolor.

A vida ao redor do templo
A Jerusalém que Jesus conheceu estava em seu auge de poder e beleza. Conquistada pelos romanos, em 63 a.C, a cidade passou por uma completa reformulação, que incluiu a construção de arenas, hipódromo, palácios e, principalmente, o impressionante templo erguido por Herodes Antibas, que Jesus visitou quando criança e poucos dias antes da sua morte. Dessa obra gigantesca restam, hoje, apenas um muro, que os judeus modernos chamam de Muro das Lamentações. Jesus foi muito provavelmente crucificado no Monte Calvário, como narra a Bíblia. Mas o percurso conhecido hoje como Via Crúcis não tem nada de histórico: foi inventado no século XIII pelos cavaleiros cruzados.

Pescador de homens
O que diz a Bíblia - Depois de ser batizado por João Batista e sofrer as tentações no deserto, Jesus foi para a Galiléia, onde recrutou seus primeiros discípulos entre os pescadores do lago Tiberíades. Escolheu viver com seus seguidores em Cafarnaum, uma pequena vila de pescadores.
O que diz a Arqueologia - Cafarnaum existiu e era um povoado com cerca de 1 500 moradores na época em que Jesus viveu. Escavações encontraram os restos de uma casa que pode ter sido de um dos discípulos, provavelmente de Simão Pedro, o primeiro a ser recrutado por Jesus.

Infância desconhecida
O que diz a Bíblia - Não há quase nada sobre a infância e a adolescência de Jesus, com exceção de uma passagem em que, aos 12 anos, numa visita ao Templo de Jerusalém durante a Páscoa, seus pais o encontram discutindo teologia com os sábios nas escadarias do templo de Jerusalém.
O que diz a Arqueologia - Escavações recentes revelaram que, ao mesmo tempo em que Jesus crescia em Nazaré, bem próximo era construída a monumental cidade de Séfores, idealizada pelo rei hebreu Herodes Antibas para ser a capital da Galiléia. Séfores estava a uma hora a pé de Nazaré e é muito provável que José e Jesus tenham trabalhado como carpinteiros em sua construção. Em Séfores, Jesus teria visto a família real, a opulência das famílias dos sacerdotes do Templo de Jerusalém e, provavelmente, teve contato com a cultura dos hebreus helenizados.

Na livraria
The Bible Unearthed Israel Finkelstein e Neil Silberman, Free Press, 2001
What Did the Biblical Writers Know & When Did They Know it? William G. Dever, Erdmans, 2001
Excavating Jesus: Beneath the Stones, Behind the Texts John Dominic Crossan e Jonathan L. Reed, Harper San Francisco, 2001
The Oxford History of the Biblical World Michael D. Coogan, Oxford University Press, 1998
The Cambridge Companion to the Bible Howard Clark Kee, Eric M. Meyers, John Rogerson e Anthony J. Saldarini, Cambridge University Press, 1997

Na internet
Biblical Archaeology Society www.bib-arch.org

Bruce Lee


Bruce Lee
Nome completo Lee Jun Fan
李振藩 (Tradicional)
李振藩 (Simplificado)
Lǐ Zhènfān (Mandarim)
Lei5 Jun3 Faan4 (Cantonês)
Nascimento 27 de novembro de 1940
São Francisco, Estados Unidos
Nacionalidade Estados Unidos/Hong Kong
Morte 20 de julho de 1973 (32 anos)
Kowloon, Hong Kong, China
Ocupação ator, diretor e instrutor de artes marciais (mestre)
Altura 1,71 m
Cônjuge Linda Emery
Outros prêmios

Hong Kong Film Award

1994 - Lifetime Achievement Award


Golden Horse Awards

1972 - Fist of Fury (Melhor Filme Mandarim)
1972 - Fist of Fury (Prêmio Especial do Júri)
Página oficial
IMDb: (inglês) (português)
Bruce Lee (nascido Lee Jun-fan; 27 de novembro de 194020 de julho de 1973) foi um ator, instrutor de artes marciais, filósofo, roteirista, diretor e produtor cinematográfico sino-americano[1] e honconguês,[2] fundador do movimento de artes marciais Jeet kune do. Ele é amplamente considerado por muitos comentaristas, por críticos, pela mídia e outros artistas marciais como o lutador de artes marciais mais influente do mundo e um ícone cultural.[3][4][5]
Lee nasceu em São Francisco, filho de pais honcongueses, mas cresceu em Hong Kong até sua adolescência. Emigrou para os Estados Unidos aos 18 anos para reivindicar cidadania americana e receber sua educação superior.[6] Foi durante esta época que começou a ensinar artes marciais, que logo o levariam para papéis em filmes e séries de televisão.
Seus filmes produzidos em Hollywood e Hong Kong elevaram os filmes de artes marciais tradicionais honconguesas a um novo patamar de popularidade e consagração, e provocou uma tendência que aumentou o interesse nas artes marciais chinesas no mundo ocidental na década de 1970. A direção e tom de seus filmes mudaram e influenciaram o cinema de ação de Hong Kong, bem como o resto do mundo.[7] Ele é conhecido por seus papéis em cinco longa-metragens: The Big Boss (1971) e Fist of Fury (1972) de Lo Wei; Way of the Dragon (1972), dirigido e escrito por Lee; Enter the Dragon (1973), da Warner Bros., dirigido por Robert Clouse; e Game of Death (1978), dirigido também por Clouse.[8]
Lee tornou-se uma figura icónica em todo o mundo, particularmente entre os chineses, por ter retratado o nacionalismo chinês em seus filmes.[9] Inicialmente treinava no estilo Wing Chun, porém posteriormente rejeitou estilos de artes marciais bem definidos, favorecendo, em vez de técnicas de várias fontes, o espírito da filosofia de suas artes marciais pessoais, que ele chamou de Jeet Kune Do.

Biografia

Infância

No ano e na hora do lendário dragão chinês, Bruce Lee nasceu em São Francisco, Califórnia, durante uma passagem da Ópera Chinesa, da qual seus pais eram integrantes.[10] Voltou para Hong Kong com apenas 3 meses de idade, cresceu e viveu lá até o fim de sua adolescência. Seu pai se chamava Lee Hoi-Chuen, e sua mãe, Grace Ho. Bruce foi o quarto de cinco filhos. Por seus pais serem artistas da Ópera Chinesa, Bruce atuou em vários filmes chineses durante sua infância.

Nomes

Lee recebeu o nome Lee Jun Fan, pelos seus pais que em Cantonês literalmente significa avigore São Francisco, em homenagem ao nome em chinês de seu local de nascimento, São Francisco, Califórnia. O nome Bruce foi dado por uma enfermeira do hospital em que Lee nasceu, também recebeu outro nome durante sua infância, Sai Feng, um nome típico feminino, usado normalmente para afastar a criança de maus espíritos.
O seu nome artístico foi Lee Siu Lung em Cantonês ou Li Xiao Long em Mandarim que literalmente significa Lee Pequeno Dragão, o nome foi dado por um diretor em 1950 de um filme cantonês no qual Lee atuou.

Família

O pai de Bruce, Lee Hoi Chuen foi um dos líderes da ópera cantonesa e um ator do cinema chinês, estava completando um ano de turnê com ópera cantonesa nas vésperas da invasão japonesa em Hong Kong durante a Segunda Guerra Mundial. Lee Hoi Chuen ficou em turnê nos Estados Unidos por muitos anos realizando apresentações em inúmeras comunidades chinesas. Lee Hoi Chuen decidiu voltar para Hong Kong depois que sua esposa deu à luz Bruce em 1940.
Dentro de poucos meses após retornarem, Hong Kong foi invadida e viveu 3 anos e 8 meses sob ocupação japonesa. A família Lee sobreviveu razoavelmente bem aos tempos de guerra, e após o fim da guerra, o pai de Bruce decidiu retomar sua carreira de ator e se tornou uma estrela ainda maior durante os anos de "reconstrução" de Hong Kong.
A mãe de Bruce Lee, Grace Ho pertencia a um dos clãs mais ricos e poderosos em Hong Kong, os Ho Tungs. Ela era a sobrinha de Sir Robert Ho Tung, o patriarca do clã e um importante empresário euroasiático de Hong Kong. Com isso, o jovem Bruce Lee cresceu num ambiente rico e privilegiado. Logo, pelo lado materno, Bruce Lee era familiar de Stanley Ho, um importante magnata de casinos de Macau.

Início nas artes marciais

Desde cedo Bruce Lee treinava Tai Chi e kong fu com seu pai e também aprendeu Wing Chun dos 13 aos 18 anos com o famoso mestre Yip Man, no qual foi apresentado ao estilo pelo seu amigo William Cheung em 1954. Anos mais tarde, o próprio William Cheung disse que Bruce Lee evoluiu muito rápido no Wing Chun, ultrapassando em pouco tempo a habilidade de muitos alunos mais antigos. Bruce tinha uma facilidade acima do comum para aprender e executar os movimentos ensinados pelo seu mestre. Como em muitas das escolas de artes marciais na época, os alunos eram ensinados por outros alunos mais graduados. Mas Yip Man começou a treinar Lee em particular após alguns alunos se recusarem a treiná-lo, pelo fato de que sua mãe não era totalmente chinesa (o avô materno de Bruce era alemão e sua avó Chinesa) e a maioria dos chineses naquele tempo recusavam-se a ensinar artes marciais aos ocidentais e aos mestiços. Com isso, Bruce se beneficiou em ter os ensinamentos do mestre Yip, em particular.
Após a guerra, Hong Kong era um lugar difícil de se crescer. Havia diversas gangues pelas ruas da cidade e Lee foi muitas vezes forçado a lutar contra elas. Mas Bruce gostava de desafios um contra um e por diversas vezes enfrentou membros dessas gangues. Mesmo com o pedido de seus pais para que ele se afastasse desse cotidiano, pouco adiantou. Devido aos desafios que Bruce venceu, as confusões vinham naturalmente até ele.

Deixando Hong Kong

Depois de estudar na Tak Sun School (ficava a dois quarteirões de sua casa na 218 Nathan Road, Kowloon) Lee entrou na rígida escola primária de La Salle College, em 1950 ou 1952 (com 12 anos). Por volta de 1956, devido ao baixo rendimento escolar e a seu péssimo comportamento, foi transferido para o Colégio St. Francis Xavier's College (ginásio), onde seria aluno do irmão Edward (foi condenado na Alemanha a passar o resto de seus dias em Hong Kong), um monge católico, professor e técnico da escola de boxe da equipe.
Na primavera de 1959, Lee participou de uma briga de rua onde a polícia foi chamada. Lee brigou, venceu e espancou o filho de uma temida família das Tríades. Finalmente o pai de Lee decidiu que seu filho deveria deixar Hong Kong para seguir uma vida mais segura e saudável nos Estados Unidos. Seus pais ficaram sabendo através da polícia que desta vez o oponente de Bruce Lee tinha antecedentes criminais, e havia a possibilidade de que sua gangue atacasse Bruce Lee. E que se Bruce voltasse a se envolver em brigas desse nível, poderia ser preso.
E em abril de 1959 eles decidiram mandá-lo para os Estados Unidos para se encontrar com sua irmã Agnes Lee, que já estava morando com amigos da família em São Francisco.

A vida nos EUA



Linda Emery em 1998.
Aos 18 anos de idade, Bruce Lee foi para os Estados Unidos, com 100 dólares no bolso e 2 títulos de campeão de Boxe de 1957 e 1958 de Hong Kong. Depois de viver em São Francisco por vários meses, ele se mudou para Seattle no outono de 1959, para continuar seus estudos e trabalhou para Ruby Chow como garçom e lavador de pratos em seu restaurante.
Ruby era esposa de um amigo de seu pai. Seu irmão mais velho Peter Lee também acolheu Bruce Lee em Seattle para uma pequena estadia. Em dezembro de 1960, Lee concluiu o ensino médio e recebeu seu diploma da Edison Technical School (agora Seattle Central Community College, localizado em Capitol Hill, Seattle).
Em março de 1961, matriculou-se na Universidade de Washington e estudou filosofia. Também estudou teatro e psicologia. Foi na Universidade de Washington que conheceu sua futura esposa, Linda Emery, com quem se casaria em agosto de 1964.
Bruce teve dois filhos com Linda, Brandon Lee e Shannon Lee.

Jun Fan Kung Fu

Lee começou a ensinar artes marciais nos Estados Unidos em 1959. Ele dava aulas de Jun Fan Kung Fu (literalmente Kung Fu de Bruce Lee). Foi basicamente as técnicas do Wing Chun, com algumas ideias de Lee. Ensinou diversos amigos que se reuniam em Seattle, começando pelo lutador de Judô Jesse Glover, que mais tarde se tornaria seu primeiro instrutor assistente. Lee abriu a sua primeira escola de artes marciais, com o nome de Lee Jun Fan Gung Fu Institute, em Seattle.
Bruce Lee saiu da faculdade na primavera de 1964 e se mudou para Oakland para morar com James Yim Lee. Juntos, eles fundaram a segunda escola de artes marciais Jun Fan em Oakland. James Lee também foi responsável por apresentar Bruce Lee a Ed Parker, fascinado pelo mundo da arte marcial e organizador do (Long Beach) Torneio Internacional de Karatê onde Bruce Lee seria mais tarde "descoberto" por um produtor de Hollywood.

Aptidão física

Bruce Lee era conhecido pela sua aptidão física e desenvolvimento avançado dos músculos do corpo. Seus exercícios e treinamentos cumpridos com dedicação tornaram-no tão forte quanto uma pessoa de seu porte poderia ficar.
Depois de sua luta com Jack Wong Man, em 1965, Lee se focou totalmente no treinamento de artes marciais. Sentia que muitos artistas marciais de sua época não passam tempo suficiente treinando o condicionamento físico. Bruce incluiu em seus exercícios de condicionamento todos os elementos da força e da aptidão muscular, resistência muscular, resistência cardiovascular e flexibilidade. Tentou técnicas tradicionais de musculação para construir músculos volumosos ou aumentar a massa muscular. No entanto, Lee teve o cuidado de advertir que a preparação mental e espiritual era fundamental para o sucesso do treinamento físico nas habilidades de artes marciais.

Lee no filme The Way of the Dragon de 1972.

Os abdominais de Bruce Lee

De todas as partes do corpo que Bruce Lee desenvolveu, os seus músculos abdominais eram os mais espetaculares: sólidos como pedra ao toque, profundamente cortados e altamente definidos. Bruce acreditava que os abdominais eram um dos mais importantes grupos musculares para um artista marcial já que virtualmente todo movimento requer algum grau de trabalho abdominal.
Ele sentia que muitos artistas marciais daqueles dias não tinham aptidão física necessária para acompanhá-lo. A esposa de Lee, Linda Emery, afirma que o seu falecido marido "era um fanático por treinos abdominais. Estava sempre a fazer sit-ups, abdominais, movimentos de cadeira romanos, elevações de perna, e V-ups."
De acordo com algumas notas iniciais de Lee, o seu treino diário abdominal incluía:
  • Torção de Cintura - quatro séries de 90 repetições.
  • Sentar para cima (sit-ups) com torções - quatro séries de 20 repetições.
  • Elevações de perna - quatro séries de 20 repetições.
  • Torções inclinadas - quatro séries de 50 repetições.
  • Pontapés em posição de rã - quatro séries de 50 repetições.

Jeet Kune Do


Emblema do "Jeet Kune Do" marca registada da Bruce Lee Estate. Os caracteres chineses em volta significam "Usando de forma alguma como uma forma" e "Nenhuma limitação como limitação". As setas representam a interação constante entre yang e yin.[11]
O Jeet Kune Do se originou em 1965 em uma luta controversa com Wong Jack Man, que era contra a ideia de Lee em ensinar artes marciais a não-orientais. Após cerca de três minutos de combate (alguns dizem 20 - 25 min), Wong Jack Man foi derrotado. Lee concluiu que a luta durou tempo demais e que não tinha demonstrado todo seu potencial usando as técnicas do Wing Chun. Considerou que as técnicas tradicionais de artes marciais eram muito rígidas e formalistas para serem usadas em situações de violência nas ruas. Lee decidiu desenvolver um sistema com ênfase na "praticidade, flexibilidade, rapidez e eficiência". Começou a usar métodos diferentes de treinamento, como treinamento de peso para a força, corrida de resistência, alongamento para a flexibilidade, e muitos outros que foi adaptando periodicamente.
Lee enfatizou o que chamou de "o estilo sem estilo". Este consistia em livrar-se da abordagem formalizada e Lee alegou que era uma mistura de estilos tradicionais. Lee sentiu que o sistema que no momento chama-se Jun Fan Gung Fu ainda era bastante restritivo e, finalmente, evoluiu para Jeet Kune Do ou o Caminho do punho interceptor.
Antes de fundar o Jeet Kune Do, os estilos do luta praticados por Bruce Lee foram:

Long Beach e campeonatos de lutas

A convite de Ed Parker, Lee apareceu em 1964 no Long Beach International Karate Championships para apresentações de suas flexões sobre os dedos (usando o polegar e o dedo indicador). No mesmo evento em Long Beach, também apresentou o famoso "soco de uma polegada".
Seu voluntário para a demonstração do soco foi Bob Baker de Stockton, Califórnia. "Eu disse a Bruce que não faria esse tipo de demonstração de novo", lembrou. "Quando ele me deu um soco da última vez, eu tive que ficar em casa sem trabalhar, porque a dor no peito era insuportável."
Foi em 1964 em um campeonato onde Lee conheceu o mestre de taekwondo, Jhoon Rhee. Os dois desenvolveram uma amizade - uma relação em que ambos se beneficiaram como artistas marciais. Jhoon Rhee ensinou seu chute lateral a Lee, e em retribuição Lee o ensinou o seu "soco não-telegráfico".
Lee também apareceu em 1967, no Long Beach International Karate Championships e realizou diversas apresentações, incluindo o famoso soco "imparável" contra o campeão mundial de karatê, Vic Moore. Lee disse que ia dar um soco em seu rosto, e tudo o que Moore tinha que fazer era tentar bloqueá-lo. Lee deu alguns passos para trás e perguntou se Moore estava pronto, Moore faz sinal positivo com a cabeça, Lee então deu um soco em linha reta diretamente para o rosto de Moore, e parou antes do impacto. Em oito tentativas, Moore não conseguiu bloquear quaisquer dos socos.

Carreira artística


Estátua de Bruce Lee em Hong Kong
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"Be water, my friend."
Famosa citação de Lee dada numa entrevista, que se pode traduzir em: "Não se limite a uma forma, adapte-se e construa a sua própria, e deixá-la crescer, ser como a água. Esvazie a sua mente, ser amorfo, sem forma - como a água. Se você colocar água num copo, ela se torna o copo; Se você coloca água numa garrafa ela se torna na garrafa; se colocá-la num bule de chá, ela torna-se o bule. A água pode fluir ou pode falhar. Seja água, meu amigo." No aúdio, a voz não é de Lee.

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O pai de Lee, Hoi-Chuen era um famoso astro da ópera cantonesa. Bruce foi introduzido em filmes em uma idade muito jovem e apareceu em vários curtas ainda em preto-e-branco quando era criança. Lee teve seu primeiro papel ainda como um bebê. Na época em que tinha 18 anos, ele já tinha aparecido em vinte filmes.
Nos Estados Unidos entre 1959 e 1964, Lee abandonou os pensamentos de uma carreira no cinema em favor da dedicação total às artes marciais. William Lee Dozier o convidou para uma audição após assistir uma de suas apresentações de artes marciais. Lee impressionou tanto os produtores com sua agilidade que ganhou o papel de Kato ao lado de Van Williams na série de TV O Besouro Verde. O show durou apenas uma temporada, de 1966 a 1967. Além disso apareceu diversas vezes em participações em várias séries televisivas, incluindo Ironside (1967) e Here Come the Brides (1969). Em 1969, Lee fez uma breve aparição em seu primeiro filme estadunidense Marlowe onde interpretava um capanga contratado para intimidar o detetive particular Philip Marlowe (interpretado por James Garner), esmagando o seu escritório com chutes e socos. Em 1971, Lee atuou em quatro episódios da série de televisão Longstreet como o instrutor de artes marciais do personagem principal Mike (interpretado por James Franciscus).
De acordo com declarações feitas por Bruce Lee, e também por Linda Lee após a morte de Bruce, em 1971, Bruce lançou uma série de televisão de sua autoria intitulado "A Warrior", discussões que também foram confirmados pela Warner Bros. Segundo Cadwell, no entanto, a ideia de Lee foi adaptada e rebatizada de Kung Fu, mas a Warner Bros não lhe deu nenhum crédito. Em vez disso o papel do monge Shaolin do Velho Oeste, foi dado ao então não-artista marcial David Carradine pelo medo de um heroi chinês não agradar ao público.

Bruce Lee (centro) aos dez anos de idade, atuando no filme The Kid.
Não estando satisfeito com seus papéis de apoio nos EUA, Lee retornou para Hong Kong. Sem saber que "O Besouro Verde" tinha sido exibido e feito muito sucesso em Hong Kong sendo oficialmente chamado de "O Show do Kato", foi surpreendido ao ser reconhecido na rua como a "estrela" do show. Então lhe foi oferecido um contrato de cinema pelo lendário diretor Raymond Chow para estrelar dois filmes produzidos por sua produtora Golden Harvest. Lee atuou seu primeiro papel principal em O Dragão Chinês (1971) que foi um enorme sucesso de bilheteria em toda a Ásia e o lançou ao estrelato. Logo em seguida atuou em A Fúria do Dragão (1972) que quebrou os recordes de bilheteria anteriormente estabelecidos pelo Dragão Chinês. Tendo terminado o seu primeiro contrato de dois anos, Lee negociou um novo contrato com a Golden Harvest. E depois formou sua própria companhia Concord Productions Inc, com Chow. Para o seu terceiro filme, O Vôo do Dragão (1972), foi dado o controle completo de produção do filme como o escritor, diretor, astro e coreógrafo das cenas de luta. Em 1964, em uma demonstração em Long Beach, Califórnia, Lee tinha encontrado o campeão de Karate Chuck Norris. Em O Voo do Dragão, Lee e Norris apresentam aos espectadores uma luta final em pleno Coliseu, de Roma que é considerada uma das mais memoráveis da história dos filmes de luta.
No final de 1972, Lee começou a trabalhar em seu quarto filme, O Jogo da Morte. Começou a filmar algumas cenas, incluindo sua sequência de luta com a estrela do basquete estadunidense Kareem Abdul-Jabbar de 2,18m, um ex-aluno. A produção foi interrompida quando a Warner Brothers ofereceu a oportunidade de Lee estrelar em Operação Dragão, o primeiro filme a ser produzido em conjunto pela Golden Harvest e Warner Bros. Este filme seria o foguete de Lee para a fama na Europa e nos Estados Unidos, no entanto, apenas alguns meses após a conclusão do filme e 6 dias antes do seu lançamento 26 de julho de 1973, Lee morreu misteriosamente. Posteriormente, Operação Dragão se tornaria uma das maiores bilheterias do ano e Lee uma lenda das artes marciais. Foi feita com o custo de $ 850.000 em 1973 (equivalente a US $ 4 milhões). Até à data, Operação Dragão arrecadou mais de $ 200 milhões no mundo inteiro. O filme provocou uma febre pelas artes marciais, simbolizadas em canções como "Kung Fu Fighting" e programas de TV como o Kung Fu.
Robert Clouse, o diretor de Operação Dragão, e Raymond Chow tentou terminar O Jogo da Morte, filme incompleto que Lee também foi escalado para escrever e dirigir. Lee tinha feito mais de 100 minutos de gravação, incluindo outtakes, para o Jogo da Morte antes da ser filmagem interrompida para lhe permitir trabalhar em Operação Dragão. Além de Abdul-Jabbar, George Lazenby, mestre de Hapkido Ji Han Jae Lee e outro praticante, Dan Inosanto também apareceram no filme.

Estrela de Bruce Lee na Avenue of Stars (Hong Kong).[12]

Estrela de Bruce Lee na Calçada da Fama de Hollywood.

Filmografia

Filosofia

Embora Lee seja mais conhecido como um artista marcial, também estudou teatro e filosofia, enquanto estava na Universidade de Washington. Estava bem e tinha lido uma extensa quantidade de livros. Seus próprios livros sobre artes marciais e filosofia de combate são conhecidos pelas suas afirmações filosóficas, tanto dentro como fora dos assuntos sobre artes marciais. Sua filosofia eclética, muitas vezes espelhando suas crenças, lutas, embora afirmou que suas artes marciais eram apenas uma metáfora para tais ensinamentos. Acreditava que qualquer conhecimento o levou ao auto-conhecimento, e disse que seu método escolhido foi a auto-expressão das artes marciais. Suas influências incluem o taoísmo, Jiddu Krishnamurti, e do Budismo. Quando perguntado por Little John, em 1972, qual era sua religião, Lee respondeu: Nenhuma. Também em 1972, quando perguntado se acreditava em Deus, ele respondeu: Para ser perfeitamente franco, eu não acredito.[13]

A morte


Túmulo de Bruce Lee
Em 10 de Maio de 1973, Lee desmaiou no estúdio Golden Harvest, enquanto fazia o trabalho de dublagem para o filme Operação Dragão. Ele sofreu convulsões e dores de cabeça e foi imediatamente levado para um hospital de Hong Kong, onde os médicos diagnosticaram edema cerebral. Eles foram capazes de reduzir o inchaço com a administração de manitol. Esses mesmos sintomas que ocorreram em seu primeiro colapso depois foram repetidos no dia da sua morte.
Em 20 de julho de 1973, Lee foi a Hong Kong, para um jantar com o ex-James Bond George Lazenby, com quem pretendia fazer um filme. Segundo sua esposa, Linda Lee, Lee encontrou o produtor Raymond Chow às 2 da tarde em casa, para discutir a realização do filme Jogo da Morte. Eles trabalharam até as 4 da tarde e depois dirigiram juntos para a casa da colega Lee Betty Ting, uma atriz de Taiwan. Os três passaram o script em casa e, em seguida Chow se retirou.
Mais tarde, Lee se queixou de uma dor de cabeça, e Ting deu-lhe um analgésico, Equagesic, que incluía aspirina e um relaxante muscular. Cerca de 7:30 da noite, foi se deitar para dormir. Quando Lee não apareceu para jantar, Chow chegou ao apartamento, mas não viu Lee acordado. Um médico foi chamado, que passou dez minutos tentando reanimá-lo antes de enviá-lo de ambulância ao hospital. Lee foi dado como morto no momento em que chegou ao hospital.
Não houve lesão externa visível, porém de acordo com relatórios da autópsia, o seu cérebro tinha inchado consideravelmente, passando de 1.400 a 1.575 gramas (um aumento de 13%). Lee tinha 32 anos. A única substância encontrada durante a autópsia foi Equagesic. Em 15 de outubro de 2005, Chow declarou em uma entrevista que Lee morreu de Anafilaxia ao relaxante muscular "Equagesic", que ele descreveu como um ingrediente comum em analgésicos. Quando os médicos anunciaram a morte de Lee oficialmente, o país considerou uma enorme "desgraça".
A controvérsia ocorreu quando o Dr. Don Langford, que foi médico pessoal de Lee em Hong Kong e o havia tratado durante seu primeiro colapso acreditava que o "Equagesic não foi único remédio envolvido no primeiro colapso de Bruce."
No entanto o professor RD Teare, um cientista forense da Scotland Yard que supervisionou mais de 1000 autópsias, foi o perito superior designado para o caso Lee. Sua conclusão foi que a morte foi causada por um edema cerebral agudo devido a uma reação aos compostos presentes na prescrição de remédios como o Equagesic.
Sua esposa Linda voltou para sua cidade natal, Seattle, e foi enterrado no lote 276 do Cemitério Lakeview. Seu caixão foi carregado no funeral em 31 de julho de 1973 por Taky Kimura, Steve McQueen, James Coburn, Chuck Norris, George Lazenby, Dan Inosanto, Peter Chin, e seu irmão Robert Lee.
A morte de Lee ainda é um tema de controvérsia.

Conspirações


Lado a lado, os túmulos de Bruce Lee e de seu filho Brandon.
Devido a seu status de mito, começaram a circular teorias de que ele havia sido envenenado pelas Tríades, enquanto outros acreditavam que um cabal secreto de mestres de artes marciais matou Lee por ter revelado muitos segredos aos não-orientais, Lee dizia que através da artes marciais a cultura oriental teria a chance de ser respeitada e reconhecida.
Houve ainda rumores de uma maldição hereditária sobre a família Lee, que afetou mais um membro em 1993, quando o seu filho, Brandon Lee, foi morto em um acidente estranho durante as filmagens do filme O Corvo.

A explicação oficial é que Bruce Lee teve uma reação adversa aos remédios que havia tomado para a sua dor de cabeça, o que causou um edema cerebral, matando o ator.

Personagens em sua homenagem

Devido a ser uma lenda das artes marciais, alguns artistas marciais fictícios em diversas mídias foram criados com base em Bruce Lee, todos praticantes de Kung Fu ou Jeet Kune Do (exceto nos casos de Rock Lee da série Naruto e Hitmonlee da série Pokemon, pois o anime Naruto tem lugar num mundo fictício e apesar de Rock Lee ser visivelmente uma homenagem a Bruce Lee, os estilos Kung-Fu e Jeet Kune Do não existem em seu mundo, o que se aplica também ao mundo de Hitmonlee). Alguns deles são:
  • Dragon, no jogo de arcade Kuri Kinton, de 1988.
  • Abyo da série Pucca (possivelmente também o seu pai, o policial Bruce).
  • Hitmonlee da versão ocidental da série de jogos/anime Pokémon (não é homenagem no original).
  • Lee Sin, do jogo league of legends.
  • Tetsuo da série de videogames Gekido urban fighters.
  • Chie Satonaka da série de videogames Persona 4